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terça-feira, 23 de março de 2010

Açores, local privilegiado para observar cetáceos



Nos Açores têm sido avistados indivíduos de várias espécies de cetáceos, algumas delas raras. Para além disso, alguns dos animais aqui registados são também observados em diferentes locais do planeta, o que, para a Direcção Regional do Ambiente, constitui uma rara oportunidade para entender as grandes rotas migratórias e tentar relacioná-las com os factores ambientais que as condicionam.

Segundo Lisa Steiner, da empresa Whale Watch Azores, em 1990 foi observado um cachalote nos Açores que, posteriormente, foi avistado nas Canárias em 1993 e em 2008, passados 18 anos da observação inicial, foi novamente registado nos Açores, agora por Jasmine Zereba da empresa Futurismo. Três cachalotes machos que foram avistados pela primeira vez nos Açores, um em 1993, outro em 1999 e ainda outro 2003, foram observados pela segunda vez na Noruega em 2008, 2007 e 2008, respectivamente. Uma vez que se conhece muito pouco sobre os movimentos dos machos de cachalote no Atlântico Norte, considera-se que estes avistamentos constituem raras oportunidades para aumentar o conhecimento sobre a ecologia destes animais.

Em Cabo Verde foi avistada em Abril de 2009, por Fred Wenzel, uma baleia-de-bossas observada previamente nos Açores em Junho de 2006. A confirmação foi feita com a utilização do Catálogo das baleias-de-bossas do Atlântico Norte, mantido pelo Colégio do Atlântico. Os indivíduos desta espécie que ocorrem na Região pertencem à população mais ampla do Atlântico Norte. Embora não existam estimativas fiáveis do seu efectivo populacional actual, a sobre-exploração massiva resultou na depleção da população em algumas das antigas áreas de caça, incluindo o Atlântico Norte. Também por esta razão, a observação e as inerentes tentativas de verificação do manancial fornecem aos cientistas dados cruciais para tentarem verificar se as tendências de declínio ainda se mantêm ou já estarão invertidas.

Segundo a investigadora Mónica Silva, em Janeiro de 2009, biólogos do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores (DOP/UAç) e da empresa Whale Watch Azores, observaram uma baleia-franca boreal a sul da ilha do Pico. Trata-se da espécie de cetáceo mais ameaçada do Atlântico Norte, com um efectivo populacional que ronda os 400 indivíduos, pelo que a sua observação constitui um fenómeno extraordinário. A baleia avistada nos Açores pertence à população do Atlântico Noroeste, que vive nas águas costeiras dos Estados Unidos e do Canadá, e foi observada pela primeira vez, enquanto juvenil, em Junho de 2002 no Grande Canal Sul, a cerca de 100 km do Cabo Cod. A baleia foi baptizada como Pico, em homenagem à ilha dos Açores onde foi observada. Antes de ter sido observada nos Açores, o último avistamento da Pico tinha ocorrido em Setembro de 2008, na Baía de Fundy, Canadá. Isto significa que Pico viajou pelo menos 3320 quilómetros em 101 dias. A Pico foi novamente encontrada na Baía de Fundy, em Setembro de 2009, 237 dias após ter sido observada nos Açores. O avistamento desta baleia foi amplamente divulgado na página internet do DOP/UAç (IntraDOP) e nos meios de comunicação social regionais, nacionais e internacionais.

Ainda segundo Lisa Steiner, da empresa Whale Watch Azores, “estas notícias são surpreendentes e mostram como é útil a criação de bases de dados de longa duração, que podem mesmo ser determinantes no acompanhamento dos movimentos dos animais de longo alcance. Mostram também como é importante a colaboração entre os investigadores, sobretudo quando os animais estudados se movimentam entre diferentes áreas.”

Para Frederico Cardigos, director regional do Ambiente, "estes avistamentos são, para algumas espécies, uma ocorrência extraordinária e rara, vêm relançar o debate sobre os percursos por eles efectuados e qual a importância dos Açores na sua ecologia e vêm ainda provar que a aposta da Região na protecção do meio marinho tem sido positiva".

Também por estas razões, o jornal Sunday Telegraph identificou recentemente o destino Açores como o terceiro melhor do mundo para a observação de cetáceos, logo a seguir ao Alasca e à Noruega.



GaCS/SF/DRA

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