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sábado, 5 de julho de 2014

Graciosense emigrada nos Estados Unidos da América atinge o SONHO AMERICANO

Elisia Teles Saab percorre os corredores da Vention Medical, uma empresa dedicada à produção de componentes para a indústria médica, como quem está em casa. Conhece todos os cantos. E todos os funcionários. Apesar de já estar afastada da gestão da firma sedeada em New Hampshire, nos Estados Unidos, continua a ser acolhida como se fosse da família, não fosse ela uma das fundadoras de um grupo que reuniu três das mais inovadoras companhias do ramo: a TDC Medical, a The MedTech Group e a Advanced Polymers. Enquanto vai fazendo uma visita guiada às instalações, é inevitável trocar algumas palavras em português com os funcionários que encontra pelo caminho. A maioria originários da ilha Graciosa, nos Açores. Tal como ela. 

Chegou aos Estados Unidos na década de 1960. Tinha quatro anos. Cresceu, estudou e durante um casamento conheceu aquele que seria o amor da sua vida: Mark Saab, um norte-americano de origem libanesa licenciado em engenharia plástica. Os dois acabaram por se casar no início da década de 1980. Cada um mantinha o seu emprego. Ela geria a contabilidade e os recursos humanos de uma companhia que produzia placas para computadores. Ele era o principal engenheiro da empresa que o tinha contratado e onde tinha desenvolvido um dos primeiros balões para cateteres angiográficos, usado para desentupir artérias. O produto foi um sucesso. Mas pela patente, Mark recebeu apenas um dólar. 

Durante dois anos tentou convencer a mulher a aventurarem-se por conta própria. Ela resistiu. Até ao dia em que ele lhe disse que os responsáveis do marketing é que estavam a ganhar dinheiro com a sua invenção. “Dá-me um ano e se não resultar acabou-se”, pediu-lhe. Ela concordou. Em 1989 criaram a Advanced Polymers. Elisia abdicou de fins-de-semana e feriados, acumulou o emprego que já tinha com o trabalho na nova empresa e criou as duas filhas. “Aos sete dias a primeira foi comigo para o trabalho. Tínhamos lá o berço e tudo”, conta Elísia. Enquanto isso, Mark dedicava-se exclusivamente à criação de novos produtos para a indústria médica. Sobretudo um, que ninguém estava a fazer: um tubo médico ultra-fino e altamente resistente que encolhia quando exposto ao calor.

É um produto difícil de explicar. Imaginem uma palhinha ultrafina que encolhe com o calor e serve para apertar aquilo que está no interior. “Temos um que é mais fino do que um cabelo mas com um buraco no interior e ultraresistente”, diz Elisia. Fazem todos os tamanhos. Alguns só por encomenda. Ao contrário de muitos outros produtos – como os balões médicos, cateteres, etc – nunca o patentearam. Teriam de revelar o segredo. “Mais ninguém no mundo produz este tubo. Só o Mark conhece exactamente todo o processo”, conta Elisia. 

Os primeiros funcionários chegaram dos Açores. Da Graciosa, claro. Tiveram formação e muitos ainda hoje se mantém na empresa. Em poucos anos a firma estava a dar lucro. Mark criou inúmeras soluções para problemas médicos e tem mais de 30 patentes em seu nome. Elisia era a gestora da companhia. O sucesso foi tão grande que rapidamente começaram a ser cobiçados. Resistiram sempre. Até que há quatro anos receberam uma proposta irrecusável e foram comprados pela Vention Capital. 

Esta companhia adquiriu várias outras firmas e foi criado o conglomerado Vention Medical. Para além de ficarem na administração da nova empresa, que tem uma facturação de várias centenas de milhões de dólares, Mark e Elísia mantiveram a propriedade do edifício onde a companhia está instalada. Ou seja, recebem uma renda mensal. Hoje, Mark continua a dedicar-se à criação de novos produtos. “Conseguimos ter um protótipo cá fora em seis semanas”, diz Elísia. Ela dedica-se à família e à solidariedade social. Criaram a Fundação da Família Saab – gerida pela sua filha, Analise – que apoia organizações de caridade e distribui bolsas de estudo a pessoas carenciadas. 

Em 2012 o casal tornou-se o maior doador individual da Universidade de Lowell no Massachusetts (onde Mark se licenciou) e em reconhecimento desse compromisso de vários milhões, a instituição baptizou o edifício de 80 milhões onde está instalado o centro de novas tecnologias e inovação de Mark and Elisia Saab Center. Ainda assim, mantém a simplicidade e simpatia. Guia o próprio carro pelas ruas de Lowell, fala com os vizinhos que encontra, continua a dar-se com a comunidade portuguesa e emprega várias pessoas da Graciosa. Tem uma casa na ilha, que faz questão de mostrar na fotografia que tem no enorme salão da sua vivenda com vista para o mar. “Vamos lá todos os anos. É casa”, diz. 


Nuno Tiago Pinto

Fonte: sabado.pt



Publicado por:  Jorge M. Gonçalves

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