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domingo, 2 de fevereiro de 2014

O carnaval na ilha Graciosa dura três meses

A ilha Graciosa, há muito que começou a festejar o carnaval, que ao invés de três dias dura aqui três meses, uma tradição antiga com "nítida influência brasileira".


"Temos uma nítida influência do carnaval brasileiro. É um carnaval, acima de tudo, de dança de salão, com a variante muito forte de concurso de fantasias", afirmou à Lusa o escritor e professor Victor Rui Dores, acrescentando que "no século XIX houve um êxodo emigratório de graciosenses para o Brasil".

O Carnaval na ilha Graciosa, um dos mais tradicionais nos Açores, é celebrado com muita dança em vários locais da ilha, onde às típicas músicas da quadra se juntam o "baile mandado", dançado a um ritmo mais lento e em roda para "recuperar forças", e ainda o "baile chocolate", em que os cavalheiros que convidam as senhoras para dançar têm de lhes oferecer um chocolate no bar.

Este ano, a terça-feira de Carnaval será celebrada a 04 de Março, mas Victor Rui Dores adiantou que "mal acaba o Natal começam logo os bailes na ilha", uma espécie de preparação para o carnaval, ainda sem máscaras ou fantasias e que se intensifica "quando faltam três semanas" para a festa do rei mono.

"Não conheço nenhuma outra parte do nosso território nacional onde esse fenómeno aconteça", afirmou Victor Rui Dores, que em 2009 lançou o livro "A Graciosa ilha", com fotografias de José Nascimento Ávila.

Os "bailes de porta aberta e luz acesa" decorrem, normalmente, entre as 22:00 e as seis ou sete da manhã do dia seguinte, um pouco por toda a Graciosa, em salões de clubes desportivos, casas do povo e bombeiros, com entrada gratuita, sendo a tradição local percorrer, na mesma noite, vários bailes.

"Apenas um salão da ilha tem entrada mais ou menos restrita, de resto, os bailes são frequentados por todas as pessoas de forma livre e onde se dança mesmo durante toda a noite", referiu Victor Rui Dores, acrescentando ser hábito, por volta das seis da manhã, haver "uma fotografia de grupo, para mais tarde recordar".

Segundo explicou Victor Rui Dores, na Graciosa o carnaval ainda não é feito em função dos turistas, mas sim para os pouco mais de 4.000 habitantes da ilha que "vivem intensamente a festa", por ser "um povo alegre por natureza", mas também "por haver necessidade de convívio e de quebrar rotinas."
"Há uma tradição de saber dançar [na ilha]. Tenho 55 anos e ainda sou do tempo em que tive de aprender, com escola, a dançar a valsa, o tango e o cha-cha-chá senão não me safava", disse, alegando que nas ilhas mais isoladas dos Açores "há maior necessidade de quebrar silêncios e promover convívios".

Victor Rui Dores destacou, ainda, que influência brasileira na ilha está presente também ao nível dos nomes das pessoas, na gastronomia, com a carne de vinha de alhos com arroz e feijão, na doçaria, com os pastéis de arroz e queijada da Graciosa, e numa bebida especial e licorosa, feita com casca de cidra e preparada de forma artesanal, denominada "andaia".


Fonte: Lusa/SOL

Publicado por: Jorge M. Gonçalves

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