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sábado, 25 de outubro de 2014

Investigadores e criadores candidatam burro da Graciosa a raça autóctone

A Universidade dos Açores lidera uma candidatura, já entregue, para que o burro da ilha Graciosa seja reconhecido como raça autóctone, à semelhança do que aconteceu recentemente com o pónei da Terceira.
"Há todas as condições para que o burro da Graciosa seja considerado como uma raça. Ele já existe lá há anos sem fim. A Graciosa é conhecida por ter burros em quantidade e exportar", salientou, em declarações à Lusa, Artur Machado, do Centro de Biotecnologia da Universidade dos Açores.
Segundo Artur Machado, a universidade já realizou estudos biométricos e genéticos que comprovam que há na ilha Graciosa um conjunto de animais que se distingue "por caraterísticas morfológicas comuns".
O investigador salientou ainda que estes animais estão "culturalmente ligados" a uma "zona geográfica específica", alegando que há fotografias dos anos 60 com "burricadas às caldeiras" e ainda hoje é comum encontrar no centro de Santa Cruz da Graciosa carroças puxadas por burros.
O burro da Graciosa aproxima-se mais dos burros do norte de África do que do burro de Miranda, de tronco europeu, mas tem características únicas.
A população dos Açores conhece-o como o "burro anão da Graciosa", mas, segundo Artur Machado, "o nanismo implica um defeito genético e eles não são anões, são pequenos". Apesar da sua pequena dimensão - a altura máxima ao garrote é de 1,07 metros e há adultos com 96 centímetros - estes burros são "muito resistentes", capazes de levar uma pessoa no dorso, "muito seguros no andamento e muito pacientes".
Não se sabe bem como, nem quando, este burro chegou à Graciosa, mas os relatos da sua participação na vida quotidiana da ilha são antigos, tanto como animal de tração, como no trabalho da terra, e na década de 60 o efetivo chegou a ultrapassar os mil animais, o que dava uma média de um burro para cada oito pessoas.
Atualmente, a população de burros da Graciosa "está francamente reduzida, mas ainda é possível recuperá-la", na opinião do investigador da Universidade dos Açores, que estima que a ilha tenha uma centena de animais.
Para Artur Machado, os burros podem recuperar a sua principal função na década de 60 e ganhar novas utilidades, que os tornem economicamente sustentáveis, como a exploração do leite de burra. "Se juntarmos a uma componente turística, a componente tradicional agrícola e a nova utilização numa agricultura com produtos de valor acrescentado, há toda a razão para que não seja apenas aquele animal de estimação muito querido que a gente quer preservar", frisou.
O investigador da Universidade dos Açores lamentou, no entanto, que ao contrário do que acontece no continente com o puro sangue lusitano, não existam apoios nos Açores para os criadores de raças autóctones. "Infelizmente, há alguns anos que nós já estamos na Comunidade Europeia e os Açores estiveram ao largo de todas essas medidas de apoio", salientou.
Foi Graça Mendonça, uma aluna da Universidade dos Açores, natural da Graciosa, que iniciou o processo de reconhecimento deste burro como raça autóctone, quando há cerca de uma década realizou o primeiro censo, no âmbito de uma tese de fim de curso.
Em 2006, o então Serviço Nacional Coudélico admitiu que o burro da Graciosa tinha "caraterísticas zoomórficas distintas das demais populações nacionais da espécie", defendendo a preservação do património. A entidade sugeriu a apresentação de um projeto de padrão racial e de um regulamento do registo zootécnico, bem como a criação de uma direção técnica e a organização dos criadores em associação, o que foi feito ao longo dos últimos anos.
Artur Machado considerou que há motivos para acreditar que o burro da Graciosa seja reconhecido como raça autóctone pela Direção-Geral de Alimentação e  Veterinária, tal como antes foi o cão barbado da ilha Terceira, o cão de fila de São Miguel, os bovinos do Ramo Grande, na Terceira, ou, mais recentemente, o pónei da Terceira.

Fonte: dnoticias.pt
Publicado por: Jorge M. Gonçalves

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